segunda-feira, 10 de março de 2008

Barroco



"Toda forma exige fechamento e fim, e o barroco se define pelo movimento e instabilidade; parece-nos, pois, que ele se encontra ante um dilema: ou negar-se como barroco, para completar-se numa obra, ou resistir à obra para persistir fiel a si mesmo"

(J. Rousset)



Conhecido também por Seiscentismo (anos de 1600), este foi um estilo literário marcado pela linguagem rebuscada, o uso de antíteses e de paradoxos que expressavam a visão de mundo barroca numa época de transição entre o teocentrismo e o antropocentrismo.No Barroco, estão presentes duas vertentes: conceptismo e cultismo.


~*Conceptismo ou quevedismo - valorização do conteúdo/conceito, jogo de idéias através do raciocínio lógico. Há o uso da parábola com finalidade mística e religiosa.


"Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos."(Padre Antônio Vieira)


"Se uma ovelha perdida e já cobrada
lória e prazer tão repentinoVos deu,
como afirmais na Sacra História,
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
Cobrai-a e não queirais, Pastor Divino,
Perder na Vossa ovelha a Vossa glória."(Gregório de Matos)


~*Cultismo ou gongorismo - valorização de forma e imagem, jogo de palavras, uso de metáforas, hipérboles, analogias e comparações. Manifesta-se uma expressão da angústia de não ter fé.


" Ofendi-vos, Meu Deus, é bem verdade,
É verdade, Senhor, que hei, delinqüido
Delinquido vos tenho..."(Gregório de Matos)


- Características:


*Metáfora
Revolução da poética barroca com o surgimento das metáforas erótico-anatômicas que associavam o amor ao prazer e a natureza à mulher.


"Goza, goza da flor da mocidade. / Que o tempo trata a toda ligeireza / E imprime em toda a flor sua pisada."(Gregório de Matos)


*Antítese
Reflete a contradição do homem barroco, seu dualismo


"Ardem chamas n’água, e como / vivem as chamas, que apura, / são ditosas Salamandras / as que são nadantes turbas"(Botelho de Oliveira)


*Paradoxo
Demonstra a tentativa de fusão dos opostos que atormenta o homem barroco

"Ardor em firme coração nascido; / Pranto por belos olhos derramado; / Incêndio em mares de água disfarçado; / Rio de neve em fogo convertido."
(Gregório de Matos)

*Hipérbato
Denota a desordem do pensamento do homem barroco
"A vós correndo vou, braços sagrados / Nessa Cruz sacrossanta descobertos"(Gregório de Matos)

*Gradação
"Oh não aguardes que a madura idade / Te converta essa flor, essa beleza, / Em terra, em cinzas, em pó, em sombra, em nada."(Gregório de Matos)

De olho no Vestibular!
Nasce o Sol e não dura mais que um dia,Depois da Luz se segue a noite escura,Em tristes sombras morre a formosura,Em contínuas tristezas a alegria.Porém se acaba o Sol, por que nascia?Se é tão formosa a Luz, por que não dura?Como a beleza assim se transfigura?Como o gosto da pena assim se fia?Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,Na formosura na se dê constância,E na alegria sinta-se a tristeza.Começa o mundo em fim pela ignorância,E tem qualquer dos bens por naturezaA firmeza somente na inconstância.(MATOS, Gregório. 25 poemas. Belo Horizonte: Itatiaia, 1998. p.44.)

A respeito do soneto de Gregório de Matos é INCORRETO afirmar:
a) o poeta, influenciado pelo classicismo, estabelece um paralelo entre os processos naturais e o percurso humano.
b) o poeta, inspirado no desconcerto do mundo camoniano, se queixa da brevidade da vida e da instabilidade do mundo.
c) o poeta, apesar da visão pessimista, observa que o destino das tristezas é se transformarem em alegria.
d) o poeta, baseando-se numa constatação pragmática, afirma que a Luz e formosura estão destinadas a desaparecer.
e) o poeta, imbuído no espírito Barroco que enforma a sua poesia, vê o mundo às avessas, em que o fulgaz é o que permanece.

Leia atentamente o fragmento do sermão do Padre Antônio Vieira:A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, se não que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande [...]. Os homens, com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes que se comem uns aos outros. Tão alheia cousa é não só da razão, mas da mesma natureza, que, sendo criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria, e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer.VIEIRA, Antônio. Obras completas do Padre Antônio Vieira: sermões. Prefaciados e revistos pelo Pe. Gonçalo Alves. Porto: Lello e Irmão – Editores, 1993. v. III, p. 264-265.O texto de Vieira contém algumas características do Barroco.
Dentre as opções abaixo, assinale aquela em que NÃO se confirmam essas tendências estéticas:
a) o culto do contraste, sugerindo a oposição bem x mal, em linguagem simples, concisa, direta e expressiva da intenção barroca de resgatar os valores greco-latinos.
b) a tentativa de convencer o homem do século XVII, imbuído de práticas e sentimentos comuns ao semipaganismo renascentista, a retomar o caminho do espiritualismo medieval, privilegiando os valores cristãos.
c) a presença do discurso dramático, recorrendo ao princípio horaciano de “ensinar deleitando” – tendência didática e moralizante, comum à Contra-Reforma.
d) O tratamento do tema principal – a denuncia à cobiça humana – através do concepismo, ou jogo de idéias.
e) A utilização da alegoria, da comparação, como recursos oratórios, visando à persuasão do ouvinte

Um comentário:

Anônimo disse...

Oiii

Só passei pra falar que o blog tá muito massa

Continuem assim

Abraço

Du

 
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