domingo, 17 de agosto de 2008

Para a nossa Gê

Um homem com uma Kawasaki Ninja em mãos, pensa que é rei, um imortal. Quer mostrar poder. Quer conquistar gatinhas. Quer correr além dos limites do tempo e espaço. Nada mais normal, com uma Kawasaki Ninja isso é bem possível. Com umas 400cc você faz o que quer. O problema é se conter perante a tanto poder. Uma hora você extrapola, exagera, pensa que é o Cap. Nascimento, daí é um abraço. Morre ou voa. Talvez os dois. Eu voei.
Até seria compreensível eu me acidentar com uma Kawasaki 400cc. Nada mais justo do que correr com uma máquina destas. Eu diria que é até recomendável. Seria meu caso se não houvesse um detalhe: eu não estava em uma Kawasaki Ninja, eu estava em uma Lambreta!? Céus, eu morreria em uma lambreta. Todavia, felizmente, apenas voei.
Tudo começou com uma brincadeira. A lambreta nem minha era. Era de um amigo, era para me divertir pelas ruas do bairro. Mas, incrivelmente, pelas leis de Murphy, aquela lambreta se transformou em uma máquina mortífera disposta a me levar desta para uma melhor, ou talvez pior, ou sabe-se lá o que. Não gosto de pensar nisso.
Em fato, eu queria continuar vivendo. Céus, tanta coisa para conhecer. Porém, não pensei na vida quando vi aquela bela e assaz descida perante mim. Era apenas eu e ela. Ela me dizia: -Venha, desça correndo, sou toda sua. Não pensei duas vezes, acelerei. A lambreta até pediu água, começou a fazer um barulho sinistro, até digo que se eu morresse naquele momento, eu morreria assustadoramente ouvindo um som do cão. Assim fui descendo, correndo, vendo a vida passar. Começou a ficar rápido demais. Muito rápido.
Incrivelmente, naquele momento, eu tive uma visão. Um visão toda borrada. Eu estava voando! Foi rápido, demasiado rápido. Engraçado a sensação que se sente quando você está sofrendo um acidente. Simplesmente você não acredita. É um sonho? Uma ilusão de ótica? Não, você está se ferrando, amigo. É realidade. Mais engraçado ainda é ouvir o barulho todo e saber que o ferrado da vez é você. Dolorosamente você. Neste caso, eu. Só não chorei devido ao meu imenso poder Jedi. Doeu.
Ver a morte de perto não é fácil, não. É uma adrenalina sem igual. Eu estava ferradamente sem capacete. Até porque… Capacete com lambreta? Nem. Coisa de moça. Todavia, naquele momento me seria providencial. Seria, mas não foi. Voei legal, fui parar a praticamente uns dois metros de distância da lambretinha. Para você ter noção, o barulho foi tão altamente incrível, que os vizinhos até saíram de suas casas para verem o que aconteceu. Fofoqueiros.
Dizem que quando se vê a morte, você vê um pequeno filme da sua vida. Eu não vi nada, a não ser o asfalto se aproximando. Todavia, apenas adquiri alguns leves ferimentos nos braços, que foram usados para proteger meu rosto na queda. Menos mal. Ferimentos leves. Trauma profundo. Enquanto eu voava, eu pensava na vida, em coisas que ainda precisava conhecer.
 
© Papeis Krista '' Por Elke di Barros